domingo, 20 de outubro de 2013

Opção de escolha

Sempre fui menina de muitas respostas. Conta a minha mãe que não tive uma "idade dos porquês", mas sim uma "idade das respostas". Como toda e qualquer criança espantava-me o mundo que me rodeava, formulava as minhas questões, mas antes que algum adulto me desse a resposta, tinha já formulado a minha teoria. E era um cabo dos trabalhos convencer-me que não, que os bebés não nasciam pelo umbigo e que não seria eu própria a pôr a semente (vá-se lá saber porquê, eu achava que tinha que pôr uma espécie de "barriguita", a boneca dos anos 80) na minha barriga e não havia cá homem nenhum a intervir em processo tão feminino e tão intimo. Que história era essa do meu pai ter contribuído? De ter que mexer na barriga da minha mãe (era assim que eu via a coisa)?

Sempre mantive esse defeito ou qualidade. Sempre fui uma auto-didacta a quem as aulas não importavam que eu cá fazia as minhas pesquisas. E nunca me correu mal.

Sempre tive teorias para tudo. Para o amor, para a amizade, a lúxuria, até essa coisa da sorte e do azar.

E, por isso, não acreditava que a saudade doía, até a ter sentido entranhada no meu peito, a impedir-me de respirar. Não acreditava que o amor tinha fim, até ter vivido o primeiro e vê-lo esvair-se de mim, até não me restar muito mais que compaixão. Não acreditava nessa coisa da paixão avassaladora, até conhecer a insónia e a falta de vontade de comer. Não acreditava na possibilidade de não se poder escolher, até te conhecer.

Não é isto que contam as histórias da minha avó. Não é isto que se vê no facebook. Nunca pesquisei, mas quase que aposto, que não são estas as respostas que nos dão o google. Isto, isto é como aqueles acidentes que só acontecem aos outros. Que foram á confiança. Cinto? Eu não preciso de cinto, que eu cá não sou parva e isto a mim não me acontece.

Até àquele dia. O dia em que os teus olhos prenderam os meus e não mais os soltaram. A partir desse dia vi com clareza o acidente que se adivinhava, pus o pé no travão, só ao de leve, só a fingir. Podia tê-lo pressionado. Podia ter travado. Mas aconteceu-me a mim e eu já não pude escolher.

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