quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Histórias

Gosto de histórias. Gosto de histórias dessas que as pessoas chamam de estórias, só porque acham que o que é obsoleto e arcaico é mais poético. Gosto de as ouvir, de lê-las, de escrevê-las. Ao final do dia, quando arrumo as contas, as contabilidades, as finanças e o Sap na gaveta e me dedico ao exercício da escrita, esse é o meu mote, contar uma história.

Gosto de vários tipos de histórias, de suspense, de amor, de crime, ou até, e passo a redundância, de História. Gosto até dessas histórias da carochinha que nos contam nos frascos de champô e nos gel de duche. Pode ser poética a promessa de um cabelo sedoso.

De todas as histórias, as minhas preferidas são claramente as de amor. Defeito de género, diria eu. Gosto, particularmente, dos amores impossíveis e platónicos. Fernando pessoa e a sua Ophélia, Firmino e a sua cólera, Anna Karenina e o seu amante. Acho que, por isso, sempre achei que um dia viveria a minha. Acho que, por isso, achei, um dia, estar a viver a minha. Até o platonismo ter dado origem ao desejo. E quando se acorda essa besta...

Essa besta que põe em causa todas as tuas teorias, todas as tuas morais, toda a tua consciência. É como a pedra que bate no vidro do carro. A marca imperceptível que deixa, pouco a pouco, com os solavancos do dia-a-dia, vai-se transformando numa teia, até ser apenas um conjunto de estilhaços. É assim que o desejo transforma o coração. Deixa-o estilhaçado.

Como mulher moderna que sou, encolho os ombros e descubro um novo mote, é só mais um. É só um no milhão. Já se passou por pior, já se conheceu tanto mais, um dia passa, é só um num milhão. Há aqueles que são "só" um num milhão e os que são UM num milhão. E é tão sublime a diferença.